Nota: segue o conceito de
liderança para este artigo: liderança é o ato de influenciar
pessoas. E só, que pese posições complementares deste próprio
autor (Vide artigo postado neste blog: Liderança: o fim das
cartilhas). No entanto este conceito simples é adotado pela maioria
das bibliografias existentes sobre o assunto.
Quando você tem dúvidas de como
fazer um trabalho quem você procura? Quando você precisa de alguém
que te promova dentro da tua organização ou quando você precisa
ouvir um elogio por um trabalho feito quem você procura? Quando você
se sente inseguro, ameaçado por algum colega de trabalho quem você
procura? Quando você sente que quase tudo na tua organização é
jogo de interesses, parece que ninguém gosta de você enquanto
pessoa indissociável do profissional quem você procura? Quando você
tem dois ou mais caminhos a seguir na sua carreira profissional que
podem trazer consequências negativas para você e outras pessoas,
podem sair do contexto ético, moral e até legal quem você procura
para desabafar e te dar conselhos?
Para maioria das pessoas as respostas
acima vem com nome de diferentes pessoas e em diferentes momentos e
contextos. Este fenômeno é estudado pelas teorias da liderança
situacional, organização informal e até mesmo pela teoria das
relações de poder de Foucalt. Não existe um líder, existem
muitos líderes em diferentes momentos e contextos. O líder que
quiser influenciar um maior número de pessoas terá que ser plural
em suas abordagens conforme o liderado e o contexto, e ou
compartilhar a liderança. Uma pessoa pode ser liderado e líder do
seu líder.
“O líder é aquele que é capaz de
se ajustar a um grupo de pessoas sob condições variadas.”
(CHIAVENATO, 2000, p. 140). A liderança passa a ser compreendida
a partir do liderado: NÃO EXISTE LÍDER SEM LIDERADOS. E se o
suposto liderado não quiser receber a influência do líder, isto é
possível? Na prática em todos os casos, na teoria isto não é
possível quando o líder for alguém com respaldo legal para exercer
a liderança, ou seja, seu chefe ou uma autoridade pública com o
poder de te impor o que fazer, a exemplo juízes e policiais. Temos o
dever legal de cumprir ordens dos nossos chefes, demos este poder
quando assinamos nosso contrato de trabalho, claro que não assinamos
uma carta em branco, temos direitos também nesta relação, mas até
que prova-se o contrário, não obedecer ordens é insubordinação.
Na prática a verdadeira influência é
uma concessão por parte do liderado ao seu líder sob um contexto.
São relações de poder, é um jogo de trocas entre os dois e o
contexto. “O poder funciona e se exerce em rede. Nas suas
malhas os indivíduos não só circulam mas estão sempre em posição
de exercer este poder e de sofrer sua ação.” (FOUCALT, 2004, p.
193 citado por BRÍGIDO, 2013, p. 60).
O liderado tem uma necessidade
que o líder pode atender total ou parcialmente. Ao atender consegue
exercer influência, mesmo que indiretamente ou parcialmente, sob o
curso de ações futuras do seu liderado. Ao ouvir o que um colega
especialista tem a dizer sobre um assunto o servidor irá
possivelmente empregar parcialmente ou totalmente os conselhos dados.
Na maioria das vezes a decisão leva em consideração a opinião do
colega especialista, a sua própria opinião, mais a opinião do
chefe.
Esta influência se torna liderança
quando se repete outras vezes e ou quando outras pessoas procuram
aquele mesmo especialista. A sociologia dispõe da sociometria para
explicar as relações de poder entre as pessoas de uma organização.
Pessoas com muitas e frequentes conexões de influência são
líderes, independente da estrutura formal.
A liderança informal pode trazer
consequências negativas e ou positivas para a organização, a
depender de como é gerenciada pelos líderes formais. Por trás
de líderes informais existem grupos informais (panelinhas no
popular) com características que trazem consequências positivas
para eles e para a organização se bem conduzido. As características
mais marcantes destes grupos segundo CHIAVENATO (2000, p. 146) são a
coesão, colaboração espontânea e transcendência em relação a
organização formal. Unidades administrativas, cargos e chefes
passam, mas os grupos informais continuam a se perpetuar na
organização e sua nova estrutura. Líderes formais que visam
implantar políticas públicas ou serviços que continuam após um
governo deve fazer uso desta característica das organizações
informais e seus líderes.
Nas organizações públicas o poder
dos líderes informais são maiores. Poder conseguido pela própria
característica e necessidade destas organizações. A cada 4 ou
no máximo 8 anos trocam praticamente todos os líderes formais. A
quantidade de normativas e leis a serem obedecidas faz com que um
novo chefe leve um tempo considerável para se apropriar, já os
líderes informais, servidores efetivos na maioria das vezes, as
conhecem muito bem e de longa data. Os vínculos entre chefe e
subordinado numa organização pública são mais frágeis que numa
organização privada, até mesmo por questões políticas e
ideológicas.
A solução é trazer a liderança
informal para assessorar como staff formal ou informalmente.
Compartilhar com eles a responsabilidade sobre as ações futuras dos
liderados, nem que seja indiretamente através da rede de liderados
do líder informal. É um ato de reconhecimento da liderança
informal, afinal ela existe querendo ou não, é fato em todas as
organizações e não é o fim do mundo para o chefe.
BIBLIOGRAFIA
BRÍGIDO,
E. I. Michel Foucault: Uma Análise do Poder. Rev. Direito Econ.
Socioambiental, Curitiba, v. 4, n. 1, p. 56-75, jan./jun. 2013
CHIAVENATO,
I. Introdução a Teoria Geral da Administração. 6 ed. Rio de
Janeiro: Campus, 2000.
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