CAMINHOS PARA QUALIDADE E RESULTADO NO SERVIÇO PÚBLICO: UM ENSAIO SOBRE A SECRETARIA DE ESTADO DA JUSTIÇA, FAMÍLIA E TRABALHO DO GOVERNO DO PARANÁ

A Difícil Arte de Ser Ouvido

Todos dependemos da qualidade e resultado do serviço público para melhorarmos nossa qualidade de vida ou apenas vivermos com dignidade. Mesmo os ricos ou os que se consideram liberais independentes (pregam redução quase total do estado): estes no mínimo dependem da normatização e intermediação das relações sociais e interpessoais realizadas pelas instituições públicas, a exemplo o poder legislativo (criar leis) e judiciário (aplicar leis). A qualidade do serviço público judiciário contribuirá para percepção da segurança, justiça e até para paz ao resolver conflitos. Os pobres dependem do serviço público até para sobreviver: saúde, segurança alimentar, previdência social e assistência social (auxílio natalidade, Bolsa Família), ou até para morrer: assistência social (auxílio funeral).


PEÇO LICENÇA PARA SER UM POUCO MAIS INCISIVO (quem lê este blog sabe que sou ponderado, mas para tudo tem limite)

É RIDÍCULO TERMOS QUE DEBATER E CONVENCER A POPULAÇÃO E LÍDERES POLÍTICOS SOBRE A IMPORTÂNCIA DA QUALIDADE NO SERVIÇO PÚBLICO. A grande pauta pública é QUANTITATIVA: vide planos de governo e debates dos candidatos ao governo federal e estadual ou até mesmo dos formadores de opinião e população nos comentários na internet. “Tem que diminuir drasticamente o número de funcionários públicos para existir INVESTIMENTOS”, outros falam até em acabar com os servidores. TOMARA QUE ESTAS PESSOAS NÃO MORRAM NUMA CIRURGIA MAL FEITA EM UM HOSPITAL COM OURO E MÁRMORE PARA TODOS OS LADOS E EQUIPAMENTOS DO BOM E DO MELHOR. NÃO É APENAS A ESTRUTURA FÍSICA QUE DETERMINA RESULTADOS E QUALIDADE; A MAIOR CONTRIBUIÇÃO É DOS RECURSOS HUMANOS. São pessoas que curam pessoas, são pessoas que julgam pessoas, educam, fortalecem vínculos, intermedeiam mão de obra ….

Tem que investir em rodovias, portos, aeroportos? TEM! Mas mesmos estes investimentos precisam ter resultados e qualidade. Novamente o fator COMPETÊNCIA DAS PESSOAS é que vai dar a maior contribuição. Aqui na região temos exemplos visíveis de rodovias que são reformadas por completo (não apenas tapa buracos) e após 2 ou 3 chuvas já estão com rachaduras e buracos; não tem durabilidade (um dos atributos de qualidade). Mas daí é apenas dinheiro? NÃO, são escolhas da quantidade e qualidade do material utilizado, dos procedimentos e maquinários, quanto tempo e quando vai ser realizado a obra. Escolhas feitas por pessoas. Assim como outras escolhas podem impactar no retorno do investimento realizado. O dinheiro para investir sempre será limitado, logo tem que fazer escolhas onde investir. Os critérios da escolha determinarão os resultados financeiros em impostos advindos do pós obra (mas tem critérios sociais e políticos também). Tem cidade e região que estão mais preparadas para dar este retorno. O arranjo social e produtivo nestas cidades permite a elas alavancarem a economia com mais velocidade após uma grande obra, a exemplo duplicação de rodovia. SENDO MAIS DIRETO: Paranavaí ou Cianorte e Umuarama dariam mais retorno de ICMS para o estado após duplicação? Cianorte e Umuarama, mas Paranavaí recebeu duplicação (DETALHE: sou Paranavaiense convicto, nasci lá, mas sou imparcial)

VOLTANDO AO CONTEXTO DA ASSISTÊNCIA SOCIAL, TRABALHO E JUSTIÇA

Na percepção da sociedade toda instituição pública presta um serviço direto para a população. SÓ QUE NÃO!!! A complexidade da administração pública brasileira fez surgir uma outra categoria de instituições: AQUELAS VOLTADAS PARA O PÚBLICO INSTITUCIONAL. É a tal da responsabilidade compartilhada das esferas de poder: federal, estadual e municipal. Nestes casos o estado não executa nada diretamente a população, apenas presta assessoria, capacitação, cofinanciamento e fiscalização das instituições que executam serviços a população. Este é o exemplo da Assistência Social, Trabalho e Justiça. Saúde e Educação da esfera estadual tem os dois papéis: serviços para a população (escolas estaduais de ensino médio, hospitais estaduais) e serviços para o público institucional (mesmos da Assistência Social). Segurança Pública e Ensino Superior trabalham apenas com a população. Logo no Governo do Paraná, assim como outros estados, temos 4 categorias de instituições quanto ao público atendido: PÚBLICO INSTITUCIONAL, USUÁRIO FINAL (SOCIEDADE), PÚBLICO MISTO E AUTO-PÚBLICO (SECRETARIAS MEIO, VOLTADAS PARA DENTRO).

PASMEM MAS A QUALIDADE É MAIS DIFÍCIL DE SER ALCANÇADA PARA O PÚBLICO INSTITUCIONAL: NÃO TEM A PRESSÃO POPULAR

Qualidade é satisfação ou suplantação da necessidade do público atendido: Secretarias Municipais no caso da política estadual de Assistência Social, Trabalho e Justiça. Para mais detalhes sobre o conceito de qualidade vide artigo neste blog que trata sobre o Monitoramento: Monitoramento na Assistência Social

As normativas destas políticas já delimitam o que seria estas necessidades ao elencar as responsabilidades do estado para com os municípios. Em resumo estas necessidades estariam expressas em serviços de ASSESSORIA TÉCNICA, CAPACITAÇÃO, COFINANCIAMENTO, NORMATIZAÇÃO E MONITORAMENTO. O conjunto destes serviços prestados pelo estado devem contribuir para que os municípios satisfaçam as necessidades da população quanto a RENDA MÍNIMA, CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA, GARANTIA DE DIREITOS, ACESSO A SERVIÇOS PÚBLICOS E TRABALHO.

A qualidade e resultados dos serviços de assessoria técnica, capacitação, cofinanciamento, normatização e monitoramento depende da aplicação de recursos, processos de trabalho, da estrutura e cultura organizacional. Entre os funcionários é comum a falta de consciência sobre o papel da secretaria (cultura organizacional): não conseguem perceber que o público atendido é institucional e nem quais são os serviços ofertados a este.

TEMOS QUE DISCUTIR DE FORMA TRANSVERSAL E MATRICIAL O QUE, COMO, QUANDO E PORQUE DE CADA UM DOS SERVIÇOS E PRODUTOS DA SECRETARIA (PORTFÓLIO). Não se trata de “Proteção Social Básica” ou “Proteção Social Especial”, esta são divisões de SERVIÇOS MUNICIPAIS E NÃO ESTADUAL. O estado não executa os serviços da Especial ou Básica, mas infelizmente é esta a forma que a secretaria estava dividida até o momento, dificultando a discussão focada na Assessoria Técnica que possui os mesmos atributos de qualidade em qualquer uma das proteções: não deixa de ser assessoria técnica. O estado até pode na sua estrutura organizacional ser dividido em Proteção Social Básica, Especial, Mulher, Criança e Adolescente … Mas deve adotar uma estrutura matricial com foco nos serviços (que é foco no usuário ou cliente). Deveria existir dentro da secretaria o responsável pela Assessoria Técnica, outro pela Capacitação …

OS MUNICÍPIOS DEVERIAM COBRAR QUALIDADE E RESULTADO DOS SERVIÇOS PRESTADOS PELO ESTADO; infelizmente relações políticas atrapalham esta cobrança.

Para implantarmos e avaliarmos qualidade precisamos de parâmetros ou atributos de comparação. A fonte destes pode ser metas, normativas, ciência e benchmarking com melhores praticas de outros estados ou países. Assessoria Técnica e Capacitação possuem NBR’s: NBR ISO 10019 de 2007 e NBR ISO 10015 de 2001 respectivamente.

ENSAIO SOBRE A QUALIDADE DE CADA UM DOS SERVIÇOS

ASSESSORIA TÉCNICA

Quem não gosta de contar com alguém com bastante conhecimento, habilidades e experiência para esclarecer dúvidas, apontar possíveis caminhos e suas consequências, apresentar boas práticas. Os municípios podem contar com este serviço por parte do estado. Tanto o estado pode pautar a agenda de assessoria técnica quanto o município a partir de sua necessidade demandar. A DEMANDA ESPONTÂNEA É UM GRANDE SINALIZADOR DA POSSÍVEL QUALIDADE E RESULTADO DO SERVIÇO DE ASSESSORIA TÉCNICA DO ESTADO. Significa no mínimo que os servidores do município percebem nos servidores do estado um apoio para resolver os problemas do seu cotidiano. Servidores no plural, a procura por apenas alguns pode indicar reforço político, ideológico ou outros interesses pessoais. NÃO SEJAMOS INGÊNUOS, estas panelinhas existem.

Assessoria Técnica de qualidade é aquela que esclarece dúvidas e aponta caminhos que resultem em qualidade e resultados para os serviços prestados pelo servidor do município a população: ou seja faz aumentar a convivência familiar e comunitária, garantia de direitos e inserção dos que precisam no mercado de trabalho. No mercado privado um consultor de qualidade é aquele que após sua intervenção leva a empresa a aumentar sua receita, lucrar mais, aumentar o número e satisfação dos clientes. Assim é para Assessoria Técnica do Estado aos Municípios. O FOCO NÃO É APENAS O SERVIDOR MUNICIPAL, MAS PRINCIPALMENTE O QUE ESTE PODE FAZER PELA POPULAÇÃO.

Logo o servidor do estado precisa possuir muito conhecimento específico e muita habilidade social para despertar no servidor municipal aceitação, confiança e compreensão da mensagem que está passando. Conhecimento de normativas, mas principalmente de procedimentos, técnicas, instrumentos e conceitos científicos sobre o objeto da assessoria (corrobora a NBR ISO 10019). O psicólogo do estado deve ser um crítico sobre as metodologias passivas de utilização por um psicólogo do CRAS ou CREAS num determinado contexto para fortalecer os vínculos de um indivíduo, grupo ou família. O psicólogo do estado deve conhecer todas as metodologias bem como os casos de sucesso ou fracasso a depender do contexto aplicado. Para tanto o estado precisa investir em capacitação deste servidor e também permitir que ele seja confrontado com diferentes experiências. Infelizmente as capacitações que o estado promove para seus servidores são genéricas, sobre normativas, e do mesmo nível das oferecidas aos servidores municipais. Muito menos promovem seminários ou avaliação de boas práticas dos municípios feitas pelos servidores estaduais que vão realizar a assessoria depois.

Capacitação para servidor do estado tem que ser diferente da capacitação para servidor do município. O servidor do estado precisa de capacitação intensiva e profunda. Até pode participar das capacitações junto com os servidores do município, prática atual, mas precisa ser capacitado a parte em outro momento, de preferência antes dos servidores municipais. Afinal são os servidores do estado que monitoram (fiscalizam), assessoram e capacitam os servidores municipais.

ASSESSORIA TÉCNICA DE QUALIDADE EXIGE SERVIDORES ESPECIALISTAS EM NICHOS ESPECÍFICOS. Não adianta achar que qualquer um pode dar assessoria sobre qualquer assunto atinente as políticas de Assistência Social, Trabalho e Justiça. Até pode mas não terá qualidade. Logo o estado NÃO precisa apenas de Assistentes Sociais e Psicólogos como Assessores Técnicos. Assuntos de gestão é para administradores, direito para advogados, aprendizagem e/ou oficinas para pedagogas e educadores. Agências de Recursos Humanos que executam o mesmo serviço de intermediação de mão de obra da política do Trabalho tem como obrigação legal possuir um ADMINISTRADOR COMO RESPONSÁVEL TÉCNICO. Que pese as agências do trabalhador não realizar a seleção, mas são elas que fazem o recrutamento e mesmo assim pode promover práticas mais refinadas e humanas junto as empresas. Análise e avaliação de cargos, bem como recrutamento e seleção são estudados ao extremo pela ciência da administração.

Falta dinheiro para o estado manter em cada uma das 22 regionais uma equipe técnica multidisciplinar composta por todas as especialidades exigidas para dar aos municípios uma Assessoria Técnica de qualidade. Novamente a solução é a matricialidade da estrutura organizacional. O estado pode adotar TÉCNICOS MACRORREGIONAIS. Não temos administradores em todas as regionais, mas o administrador da regional de Cianorte (EU!) pode prestar assessoria sobre gestão nas regionais vizinhas, aplicando metodologias de atendimento que não sejam tão onerosas quanto ao tempo; a exemplo reunião em grupo de municípios para discutir determinado tema. Assim como psicólogos e assistentes sociais de outras regionais podem vir para Cianorte. Idem para advogados e outros profissionais.

O estado já possui os profissionais para estas assessorias específicas. O Plano de Carreira, Cargos e Salários é dividido em funções que são as profissões regulamentadas e que abarcam especificidades científicas. Todos que adentrarem no estado sabem que assessorar na sua área é uma responsabilidade inerente ao cargo ocupado. O que não pode é Assistente Social orientar sobre assuntos específicos de contabilidade e direito como acontecia nos processos de prestação de contas dos cofinanciamentos em forma de convênios.

Diferente da demanda espontânea a DEMANDA PELA AGENDA DO ESTADO é mais sensível a qualidade. É mais difícil saber o que o município está precisando em termos de assessoria. A escolha por parte do estado deveria ser baseada num processo de monitoramento e debates entre os especialistas estaduais e do governo federal sobre o assunto. Escolhas intermediadas por uma agenda estadual postas em deliberações dos conselhos, conferências, normativas e planos estaduais. Mas também por um GESTOR DE SERVIÇO. O responsável por intermediar nas diferentes coordenações quais assuntos serão prioritários para Assessoria Técnica e CENTRALIZAR A AGENDA. Infelizmente a SEDS até aqui não possui uma agenda, era demandas pontuais de apagar incêndio e de assessoria operacional (procedimentos burocráticos).

Assessoria Operacional é diferente de Assessoria Técnica. Trata-se de esclarecer dúvidas básicas de procedimentos burocráticos advindos de serviços e produtos como cofinanciamento e capacitação. A deliberação tal exige que para o município acessar o recurso tem que apresentar tais documentos, fazer um projeto e passar por algumas etapas até ter a liberação do dinheiro. Todas estas informações fazem parte de procedimentos operacionais e não técnicos, voltados a esclarecer os municípios na relação com o estado e não com a população. Lembrem-se que o principal objetivo da assessoria técnica é orientar para o atendimento direto a população por parte dos servidores municipais ou orientar assuntos específicos e complexos (técnicos) abarcados pela ciência e pelas profissões regulamentadas.

Não dá para desperdiçar recursos humanos caro para a sociedade em esclarecimento de dúvidas que até uma criança sabe dar após uma simples leitura. Enquanto isto psicólogos municipais do CRAS confundem atendimento para fortalecimento de vínculos com atendimento terapêutico, substituindo profissionais de saúde, não fortalecendo vínculos e nem resolvendo os traumas ou transtornos psicológicos, uma vez que não terão respaldo institucional para solucionar este tipo de problema como os profissionais da saúde tem. Ainda pior falando para a usuária com estresse pós-traumático que a mesma deve procurar a igreja e homem (ela era casada) para resolver os seus medos. Segundo esta psicóloga ela, profissional preparada e contratada, não poderia ajudar a pobre mulher a superar seus medos. Este fato aconteceu e me foi narrado por uma usuária. Que pese o contraditório para mim fica claro os equívocos quanto ao papel do psicólogo no CRAS e a negligência da profissional com pouca vontade de trabalhar.

Equívocos se resolve com assessoria técnica. Falta de vontade de trabalhar com monitoramento. Aqui surge uma habilidade de ponderação que os servidores do estado devem possuir. Na assessoria técnica não pode existir hierarquia, clima de fiscalização ou monitoramento. Apesar de o estado prestar estes dois serviços (monitoramento para a sociedade é claro), são no mínimo momentos diferentes. Deveria ser profissionais diferentes, justamente para não melindrar a relação e dificultar a aceitação das orientações, mas infelizmente são os mesmos profissionais.

Esta orientação complexa e com foco nos resultados para população (técnica) exige dos servidores do estado abordagens mais duradouras. Trata-se de um ACOMPANHAMENTO TÉCNICO, caso contrário será apenas respostas pontuais que não levam a melhorias de processos ou resultados. Desta característica surge na iniciativa privada planos de consultoria. Para a realidade do estado poderia ser PLANO INDIVIDUAL DE ASSESSORIA TÉCNICA – PIAT (na assistência social existem muitos PIA’s). O serviço de assessoria técnica precisa ser organizado, monitorado e planejado segundo a lógica da necessidade do cliente, neste caso os municípios.

Como e quando realizar a assessoria técnica influencia na qualidade da mesma. O esclarecimento de dúvidas e as sugestões devem acontecer no momento necessário para os servidores municipais. O tempo de espera para uma resposta por parte do estado é um atributo de qualidade. Temos exemplos de municípios na nossa região que solicitou esclarecimentos do governo federal e até hoje não receberam resposta. Os processos de trabalho do estado tem que ser organizados para dar esta resposta o mais rápido possível. O canal de atendimento implica neste tempo de resposta e é um dos meios de como acontece a assessoria. Telefone, celular, redes sociais, fóruns de mata dúvidas, publicações com perguntas e respostas são alternativas que complementam o atendimento individual.

SE VOCÊ É SERVIDOR DO CRAS, CREAS, AGÊNCIA DO TRABALHADOR, ABRIGOS, CASAS LARES, CENTROS DE CONVIVÊNCIA DEEM O SEU TESTEMUNHO SOBRE O SERVIÇO DE ASSESSORIA TÉCNICA DO SEU ESTADO CLICANDO NA CAIXA ADICIONAR UM COMENTÁRIO.

CAPACITAÇÃO

O objetivo do processo de capacitação é agregar conhecimentos, habilidades e atitudes (composto da competência) aos alunos (servidores municipais) para que estes apliquem no seu trabalho, trazendo qualidade e resultados para a população atendida. O objetivo é o mesmo da Assessoria Técnica, o que difere é o meio utilizado, ou o formato do serviço oferecido pelo estado ao município. Capacitação é mais conceitual, coletiva na abordagem, formalizada no formato e traz resultados mais de longo prazo.

O FOCO É A NECESSIDADE DOS ALUNOS (vide NBR ISO 10015). Novamente o processo de monitoramento deveria sinalizar em quais temas o atendimento do município não está com a qualidade e resultados desejados. Esta informação complementada com análise dos servidores estaduais que prestam assessoria técnica, mais pesquisas de opinião ou outros espaços de participação junto aos servidores municipais, resultaria num indicativo da necessidade de capacitação. A escolha do tema, conteúdos relacionados, duração e público do curso seria mais alinhada a necessidade.

Por outro lado o estado pode ter sua agenda proveniente da implantação de novos serviços, programas, projetos, benefícios e normativas ou alteração dos já existentes. Nestes casos capacitações introdutórias ou de atualização, com pequena duração já são suficientes. Novamente a demanda pela agenda do estado na prática é mais procedimental e burocratizada. A exemplo cursos oferecidos para operacionalizar sistemas, prestar contas ou fazer planos no formato exigido pelo estado. Estas NÃO são capacitações que visam alterar a realidade da relação município com seu público atendido e sim da relação município com o estado. É UMA CAPACITAÇÃO MEIO; apesar de o público ser externo ao estado.

Botar foco no aluno é entender que mesmo com graduação, especialização, mestrado e doutorado um psicólogo necessita de mais conhecimentos e habilidades numa determinada linha da psicologia que esteja fazendo falta para ele e/ou esteja alinhada com as exigências do fortalecimento de vínculos tão visado pela política de Assistência Social. Seria uma capacitação de aperfeiçoamento de longa duração no tema psicologia aplicado ao seu trabalho. Quase uma especialização em Fortalecimento de Vínculos para Psicólogos. E assim para os demais profissionais. O que não dá é abrir uma capacitação desta para outros profissionais sem antes atender aqueles que poderão colocar o atendimento num patamar de estado da arte.

A capacitação por si só não é uma resposta a falta de competência nos processos de trabalho. Além da assessoria já citado anteriormente outro meio é o RECRUTAMENTO INTERNO. Muitas vezes é mais barato realocar servidores que já possuem conhecimentos, habilidades e atitudes sob um determinado assunto do que capacitar quem não sabe nem de que caminhão de pau de arara caiu (desculpe a expressão popular). Infelizmente é uma realidade principalmente em assuntos de gestão.

O estado capacita os municípios através dos servidores estaduais ou empresas contratadas para esta finalidade. Os dois meios traz vantagens. Quando utilizar seus servidores validará estes como referência aos servidores municipais, aumentando a possibilidade de aceitação da Assessoria Técnica, além do que o servidor do estado conhece de antemão as principais dificuldades dos servidores municipais. Por outro lado ao utilizar pessoas de fora traz outras vivências e outra forma de abordar o conhecimento que pode ser proveitoso para os municípios. Uma estratégia seria utilizar professores com vivência na prática municipal somada a academia. Ou cursos que tenham a participação de diferentes perfis de professor: de fora, do estado, dos municípios com boas práticas.

A qualidade da capacitação depende do alinhamento do conteúdo com as necessidades dos alunos de um lado e do estado do outro, mas este alinhamento por si só não produz qualidade, é apenas acertar a porta de entrada do prédio, trata-se da etapa de planejamento da capacitação. Quem vai executar as aulas, como, quando, onde e para quem fecha a etapa de execução, tão importante quanto a anterior. O onde é um dos atributos mais reclamados pelos alunos do estado: “espaço inadequado, falta lanche, ar-condicionado, longe” e outros itens relacionados ao local do curso.

O professor tem que ter domínio absoluto do conteúdo na perspectiva do contexto do aluno. Não adianta dominar conteúdo acadêmico e não saber explicar para o aluno, aplicando a sua realidade. Infelizmente o processo de recrutamento e seleção de professores não é tão estruturado no estado. Muito menos de formação de um REPOSITÓRIO DE PROFESSORES voltados as necessidades do estado. Temos muitos professores voltados a gestão privada por exemplo, ou professores do serviço social que parecem que estão fazendo militância.

NÃO VOU DISCUTIR O ATRIBUTO DIDÁTICA (COMO). Mas a ciência da Pedagogia traz muitos caminhos. Este é assunto para meus amigos pedagogos do estado.

A formação do conteúdo também é uma atribuição de qualidade da capacitação. FALTA CONTEÚDO PLURAL PARA ALGUMAS NECESSIDADES DAS POLÍTICAS do trabalho, assistência social e justiça. Mesmo que o professor seja competente no sentido do que tem não falta, mas vai faltar conhecimento não por culpa dele, mas porque a sociedade não produziu e não foi estimulada para tal. TEMOS VAZIOS CIENTÍFICOS por exemplo na mensuração da contribuição de uma determinada intervenção do estado sobre uma mudança social ocorrida: até onde a redução da pobreza foi mérito do Programa Bolsa Família? qual o peso do momento de quase pleno emprego em 2013 sob a mesma pobreza? A QUALIDADE DOS SERVIÇOS PÚBLICOS é outro tema com vazios científicos em algumas das suas complexidades. Vejam que o título deste artigo é ENSAIO, eu quase não fiz citações, trata-se mais de minha experiência e processo cognitivo fundamentado em múltiplos conhecimento desse que vos fala. O estado deveria incentivar pesquisas e produção de conhecimento dos assuntos da política de Assistência Social, Trabalho e Justiça.

A capacitação não termina na sua execução. O Pós Venda ou PÓS CAPACITAÇÃO é que promove a aprendizagem no mais estricto senso. Trata-se do processo de aplicação do que foi aprendido. PROCESSO DE MELHORIAS DE PRÁTICAS onde são produzidos novos conhecimentos e habilidades que vão iniciar um novo ciclo de necessidades. Esta etapa se chama MONITORAMENTO dos resultados alcançados pelo serviço de capacitação. É possível mensurar o conhecimento antes e depois de um curso, assim como erros que aconteciam antes e depois ou o nível de conformidade para padrões científicos e normativos no atendimento, só para citar algumas possibilidades de monitoramento. O que não pode é atrelar de forma rasa a repetição de erros na operacionalização de um sistema com a falta de qualidade de um curso promovido para tal finalidade. A forma mais direta de avaliação do aprendizado é prova de conhecimento, as outras formas citadas sofre influência de outras determinantes externas: a exemplo a vontade dos alunos em mudar o comportamento que leva ao erro; apesar de saber fazer diferente ele prefere ou esta condicionado a repetir o mesmo padrão de sempre.

COFINANCIAMENTO

Trata-se de um produto: DINHEIRO. É o que mais interessa aos municípios. No pacto federativo o estado repassa apenas uma parte do dinheiro que é arrecadado nos municípios para estes de forma automática e para utilização livre (Fundo de Participação Municipal). Outra parte é repassada para que o estado possa fazer nivelamento de uma política estadual: inserir nos municípios sua agenda. Na assistência social este processo se chama cofinanciamento.

Qual a agenda do estado e quem será os parceiros que receberão o dinheiro diz muito sobre a qualidade deste processo. Temos muitos problemas a serem enfrentados dentro da política de assistência social, trabalho e justiça, quais devem ser priorizados com cofinanciamento e qual a proporção de dinheiro que cada um vai receber são escolhas que devem ser fundamentadas em processos de monitoramento e avaliação, bem como opinião de especialistas, deliberações de conselhos e conferências, metas de planos. Enfim tudo que o leitor já ouviu para os dois serviços citados anteriormente. Porém aqui é mais difícil: ACERTAR A PROPORCIONALIDADE DO PROBLEMA SOCIAL COERENTE COM A DISTRIBUIÇÃO DO RECURSO. Infelizmente não temos PROCESSO de monitoramento e avaliação de problemas sociais, temos estudos pontuais demandados nestas épocas de decisão do que fazer com o dinheiro que tá na conta da secretaria de estado e se não gastar o governador vai querer transferir para outra demanda de outra secretaria. Não estudamos e não conseguimos dimensionar com frequência os problemas que nos cercam, a frequência aqui é uma necessidade de refinar o diagnóstico para errar menos.

Uma vez definido que dos 50 milhões que a secretaria tem disponível para cofinanciamento, 10 vai para acolhimento institucional, 10 para construção de CREAS e assim sucessivamente a próxima etapa é dos 10 que vai para o Acolhimento Institucional quantos vai para cada município. Este procedimento é denominado CRITÉRIOS DE PARTILHA. Como vamos partilhar o dinheirinho do estado com os nossos parceiros municipais? Podem ser critérios técnicos e políticos. Grandes obras o critério político costuma ter um peso maior, apesar de ser velado.

Os indicadores sociais (número de alunos em evasão escolar, número de direitos violados de crianças e adolescentes …) podem indicar uma NECESSIDADE OU UMA CAPACIDADE DE RESOLVER UM PROBLEMA ESTADUAL A PARTIR DE DETERMINADOS MUNICÍPIOS. Vamos escolher os municípios pelo critério daqueles que mais precisam ou vamos escolher pelo critério daqueles que mais tem para oferecer? Cianorte ficou de fora de várias deliberações porque não possui uma população tão vulnerável quanto outros municípios do mesmo porte: de forma grosseira Cianorte é Rica (grosseira! Ela tem pobres). Por outro lado se ela é “rica” e tivesse estrutura invejável dentro da assistência social poderia ao receber dinheiro realizar um trabalho de fortalecimento de vínculos junto a sua população com mais qualidade que outro município que não tem uma estrutura tão boa mas tem mais pobres. Temos problemas de municípios que recebem recurso do estado e não consegue executar porque falta capacidade para tal. Na nossa política estadual sempre utilizamos indicadores de NECESSIDADE: aqueles que mais tem demanda recebem mais, independente da capacidade de execução. Sou a favor de incentivar a capacidade de resposta dos municípios através da CAPACITAÇÃO E ASSESSORIA TÉCNICA.

ATÉ NO COFINANCIAMENTO O QUANDO PESA NA QUALIDADE. Os municípios reclamam dos repasses de recurso que acontecem quase no final do ano. Atrapalha a programação orçamentária do município, além da própria licitação. Ou ainda que do momento que foi realizado o planejamento para aquele dinheiro até ele ser repassado os itens a serem comprados conforme planejamento já não tem mais necessidade.

DINHEIRO É BOM, mas tem que ser para os municípios que possuem a população que mais precisa, combinado com a capacidade de fazer acontecer, no momento certo e valor de repasse que possa fazer a diferença. Caso contrário É DINHEIRO JOGADO FORA!

MONITORAMENTO OU FISCALIZAÇÃO

POR SI SÓ OU POR MODISMO NÃO SERVE PARA NADA. Monitorar só faz sentido se for para melhorar a qualidade do serviço público. E NÃO PARA PUNIR MUNICÍPIO OU SERVIDOR. O Foco tem que ser numa agenda positiva, CONSTRUTIVISTA. O monitoramento tem que resultar numa capacitação, assessoria técnica, um novo serviço, ou alteração na metodologia de atendimento de um serviço existente.

Era o responsável pelo MONITORAMENTO DA SEDS. INFELIZMENTE não conseguimos mudar a cultura sobre o que é e como tem que ser monitoramento nesta instituição. Abaixo os artigos publicado neste blog que trata sobre o tema a exaustão e por milhares de ângulos, segue links:

MONITORAMENTO NA ASSISTÊNCIA SOCIAL: CONCEITO

MONITORAMENTO NA ASSISTÊNCIA SOCIAL: OBJETIVO

MONITORAMENTO NA ASSISTÊNCIA SOCIAL: OBJETO E PADRÕES DE COMPARAÇÃO

MONITORAMENTO NA ASSISTÊNCIA SOCIAL: ESCOLHA PELA VIABILIDADE OPERACIONAL

MONITORAMENTO NA ASSISTÊNCIA SOCIAL: ESCOLHA PELA FUNDAMENTAÇÃO CIENTÍFICA

MONITORAMENTO NA ASSISTÊNCIA SOCIAL: ESCOLHA PELOS RESULTADOS

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