QUALIDADE DAS CAMPANHAS DE POLÍTICAS PÚBLICAS: BREVE DEBATE E EXEMPLOS


 

A PREVENÇÃO nas políticas públicas se faz principalmente através de informação e sensibilização da população através de campanhas. Os resultados da prevenção depende da qualidade das campanhas. Qualidade que passa pelo conteúdo, frequência, seleção correta do público e do meio utilizado, “time” e não apenas do valor investido. Aqui no Paraná os Fundos Estaduais das políticas de garantia de direitos de criança e adolescente, mulher, idoso, pessoa com deficiência e também da Assistência Social investe milhões de reais todos os anos em campanhas temáticas de datas específicas. Os 399 municípios do estado também investem recursos próprios. É muito dinheiro investido e pouco debate sobre o assunto.

 


A prevenção não se faz apenas com informação sobre lei e normativas. Não se combate a violência contra a mulher apenas falando para a população que é crime: TODOS JÁ SABEM. Precisamos sensibilizar, impactar, desmistificar, transformar valores e crenças: tem que ter conteúdo, tem que ter qualidade, tem que ter coragem para abordar a fundo. No meu trabalho de monitoramento e assessoria técnica fiquei sabendo de municípios onde campanhas foram reprovadas por possuir conteúdo que ofende a cultura do estupro: valores que culpabilizam a vítima e glorificam certos perfis de pessoas que jamais poderão ser consideradas como possíveis abusadores. A cultura falaciosa da existência de pessoas de bem e do mal: “do mal são os outros”.


NOTA: "Do mal são os maridos das outras mulheres, não o meu, eu não acredito em você, você quer me ver separada, vai embora". Quantas meninas já viveram isto?

 

O Combate as violências se faz através do combate a valores e crenças equivocados. Precisamos dialogar de maneira criativa sobre frases que perpetuam estes valores, combatendo-as de forma que possam ser compreendidas pelo público-alvo da campanha. Precisamos retirar a culpa da vítima e transferir para o violador. Precisamos deixar claro que o perfil do violador passa longe “do mal são os outros”. Desconstruir crenças como “violência só acontece com pobre”, “educação e disciplina se faz com violência”.

 

 


 

É uma transformação cultural; logo contínua e de longo prazo. Campanhas feitas apenas para datas específicas e sem continuidade tem uma possibilidade reduzida de promover esta transformação cultural e portanto de dar resultados na prevenção. Na França teve recentemente uma campanha de combate ao abuso sexual contra criança e adolescente no natal: papai noel chega numa casa onde o menino sofre abuso sexual. Afinal natal é tempo de família. Sou defensor que existe “time” das campanhas públicas temáticas. Quando acontece tragédias de grande sensibilização social é o momento de reforçar com campanhas. Se perder este tempo já não terá grande impacto. As instituições públicas e privadas tem que estar de prontidão para reagir a eventos adversos combatendo com prevenção e não apenas com tratamento e redução de danos.


Conteúdo plural e direcionado a públicos específicos e momentos diferentes. Campanhas direcionadas para agressores, cúmplices, vítimas e sociedade em geral devem ter mensagens diferentes. O setor de vigilância socioassistencial dos municípios deveriam conhecer a sua “clientela” a fundo: qual é o papo machista nos botecos da cidade; é exatamente contra o conteúdo deste papo que se deve lançar campanhas. Preferencialmente que chegue até os agressores que neste exemplo estão nos botecos propagando a cultura que eles acreditam ser benéfica a eles. Campanhas em emissoras de rádio mais ouvidas nos botecos, outdoor em pontos de circulação para os botecos, peça teatral na frente do boteco, entrega de panfletos por parceiros de botecos.



Temos que utilizar muita criatividade de abordagem para combater a violência. A Secretaria Estadual do Paraná realizou campanhas premiadas e impactantes em espaços públicos. Eu não sabia e fui impactado. Estava voltando do almoço e quando adentro no saguão de acesso aos elevadores do Palácio das Araucárias em Curitiba me deparo com um homem novo agredindo verbalmente uma moça, logo em seguida começou arrastá-la. A minha reação foi de negação num primeiro momento; “não pode este cara ter tamanha coragem”, “ele sabe onde está” eu pensei. Fixei meu olhar no homem já avaliando as possibilidades que ele teria numa reação minha. Vi que ela não tinha arma. Para sorte dele ou minha percebi que era um teatro, mais 10 segundos e ... Conclusão: a minha reação não foi a mais apropriada, não estou preparado, tenho tendências a reagir com violência a violência. Em outra campanha de combate a violência contra criança e adolescente foi feito cadeiras enormes e colocado no hall de entrada do prédio, além de outros objetos enormes de grande, com a mensagem: “agora você sabe como uma criança se senti”, extremamente impactante: diz no peito!


Temos que diariamente praticar a prevenção as violências. Cada um tem o potencial de transmitir mensagens com conteúdos que combatem os valores e crenças equivocados. Temos que colocar no nosso status do aplicativo de rede social: eu adotei esta prática. Temos que colocar em grupos que participamos. Se nós não temos coragem de abordar tais assuntos como exigir da população que denuncie: ato de muito mais coragem. Vamos compartilhar campanhas.


Nas postagens seguintes trago o que achei de melhor na internet sobre campanhas para cada tema. Trago inclusive sobre o tema pobreza e desigualdade social. Precisamos trabalhar estes temas com prevenção e não apenas realizando transferência de renda e concedendo benefícios eventuais.

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